22/10/2008

"Pequena reflexão sobre os casos de violência..." : texte en portugais

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Pequena reflexão sobre os casos de violência contra as mulheres no movimento anarcopunk


O movimento anarcopunk sofre de diversos problemas. E os últimos casos de violência contra a mulher que vêm acontecendo dentro dele é apenas um reflexo disto. Em primeiro lugar, já não acredito em uma organização anarcopunk em âmbito global, mas sim em organizações individuais ou minigrupos. Este falta de organização coesa e forte faz com que o movimento se enfraqueça e com isto, dificulta-se ou minam-se as possibilidades de se buscar e realizar a destruição deste tipo de coisa em um âmbito maior.

Na avaliação que faço da ocorrência destes casos, noto que sua motivação se dá por ainda existerem, em um movimento que já devia ter abolido de uma vez por todas o machismo, práticas patriarcais e sexistas, que levam sempre a este tipo de ocorrências. Homens que pensam que as mulheres são propriedades deles, e por serem libertárias, seus corpos estão à disposição para serem bulinados na hora que eles quiserem. Afinal, qual a idéia que estes “anarcopunks” e “punks” têm sobre as mulheres?
E porque permite-se que pessoas que praticam tamanha atrocidade, permaneçam entre libertári@s? Mesmo sabendo do caráter da pessoa, ainda existem aquel@s que passam a mão e varrem a sujeira para debaixo do tapete, permitindo que estes homens continuem realizando atividades e fazendo parte de um movimento que é contra a exploração das mulheres. Porque??

Será que o movimento anarcopunk ainda não atingiu a maturidade suficiente para saber separar o joio do trigo??? Será que passa tão imperceptível que não se nota uma atitude autoritária, machista ou repressora de pessoas que fazem parte do movimento??? Ensaio algumas respostas: deve ser pelo visual carregado, pela quantidade de gírias que se fala, pelo número de roles já dados, ou pela quantidade de substâncias alucinógenas já usadas...

Tornam-se cada vez mais constantes denúncias (que precisam ser investigadas a fundo) de mulheres que são agredidas, seja fisicamente, moralmente ou sexualmente, por homens punks (?) e nada é feito de maneira contínua. Discute-se por um tempo para , logo em seguida, tudo ser esquecido.O caso mais grave que já aconteceu, ao menos aqui no nordeste, foi o estupro praticado por André Free, de Natal, contra uma anarquista de Fortaleza. Este fato não pode cair no esquecimento jamais (como também todos os outros), mas parece que isto já está acontecendo.
E por favor, não venham dizer que tod@s cometemos erros, porque NADA justifica a prática de violência contra a mulher, ainda por cima praticado por alguém que se diga libertário!!!

Durante a assembléia realizada em Natal, entre grupos e indivíduos do nordeste, para discutir o que o movimento iria fazer em relação a este caso, algumas pessoas ainda tinham dúvidas se havia acontecido um estupro ou não – mesmo com todo o relato da garota violentada e do homem que a violentou. Não há dúvidas: quando uma pessoa é forçada a fazer sexo contra a sua vontade, quando el@ diz NÃO!, e mesmo assim @ outr@, pratica sexo com el@, está configurado a violência sexual. Um pouco de leitura faz bem...existem cartilhas aos montes que falam sobre isto...
Recentemente apareceu outro caso, desta vez, em São, Luiz, no Maranhão, do qual nos chegam muitas informações, e que até o momento se configura em abuso sexual. E em Fortaleza, “um punk que quis saciar seus desejos”, acaricia contra a vontade da garota o corpo dela, enquanto esta dormia. Esta pergunta já ficou velha, mas não custa perguntar: Até quando isto irá acontecer, hein?!
Sobrevivemos em um mundo patriarcal/machista e a ocorrência de violência contra as mulheres acontece a cada 4 segundos, praticada na maioria dos casos, por homens próximos a elas. O movimento feminista trava uma luta incessante contra este tipo de coisa, mas ainda não conseguiu erradicá-la, acabar com a violência que acometem mulheres de todo o mundo. Buscam reformas e não atacam de frente o problema. Será que o movimento anarcopunk age da mesma forma?? Em Oaxaca, aconteceram alguns casos de violência contra a mulher, onde foram registrados estupros, e os homens e mulheres de lá, realizaram diversas assembléias (vejam bem DIVERSAS!!) com as pessoas da comunidade e com o agressor, discutindo a fundo através de grupos de estudo, as causas deste tipo de violência e o que fazer, já que se tratavam de libertári@s. Em alguns locais, o agressor foi expulso da comunidade, já em outros foi permitido que ele continuasse, sendo realizadas diversas reuniões, que resultaram na busca de uma educação mais livre, reconhecendo que isto acontecia devido a cultura patriarcal ainda presente na vivência destes homens.

E como se pode erradicar este mal? Penso que é preciso se educar, e educar de uma maneira libertária, fazendo com que, tod@s nós, homens e mulheres anarcopunks ou não, quebremos os ranços patriarcais que ainda existem entre nós e percebermos que@ outr@ não é um objeto, uma coisa. Como o caos está instalado no movimento anarcopunk, é preciso que as mulheres procurem se defender, e para isto, precisam ter auto estima e colocar a boca no trombone, dizer quem a agrediu, e tentar se defender, aprendendo alguma arte marcial. O wen do é um ótimo caminho, pois trabalha as duas coisas, auto estima e técnicas de defesa. Penso que esta é base de tudo.
Outro ponto ao qual o movimento sempre bate é: o que fazer com o agressor? E acrescento mais um que também é importante: como ajudar a mulher que foi violentada? Pouc@s se atentam a isto.
Considero importante que comecemos a pensar nestas questões, para que de repente, não recorramos ao Estado...
Afinal, o que querem e fazem @s anarcopunks???

diciembre 2006

Mabel Dias
libertare@yahoo.com.br

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